terça-feira, 17 de novembro de 2015

Uma viagem pelo Rio Amazonas.




"Estava trabalhando em Manaus a mais de 20 dias e minha próxima parada era a cidade de Belém. Nesta época eu já trabalhava no Laboratório Pardini e resolvi fazer a viagem de barco, Não tinha a menor ideia do que significava viajar de barco no Rio Amazonas por 05 dias, mas estava motivado a fazer a viagem e fui até o agente de viagens e comprei um camarote num catamarã da Enasa, um navio de uns 50 metros de comprimento e com 03 andares. Quando comprei o camarote, lembro que o agente disse que o camarote custava 250,00 e a rede 60,00. Nem pensei, comprei o camarote. No dia da viagem, cheguei no porto de Manaus e fui conhecer o navio, que não tinha a menor idéia de como era e tive uma grata surpresa. O apartamento era pequeno, mas tinha banheiro privativo, ar condicionado, ficava no terceiro andar e agora a surpresa, era o único. Os demais apartamentos eram ocupados pela tripulação do barco. Ao lado do apartamento ficava a cabine de comando e no mesmo piso ficava uma lanchonete. Maravilha, mas quando fui conhecer o navio, fiquei com o coração na mão. No segundo e no primeiro andar tinha mais de 500 pessoas penduradas em redes e era uma confusão, um falatório, que me senti um estranho no ninho. A viagem durou 05 longos dias, pois nada mudava, a paisagem era sempre a mesma e aquela imensidão de agua pela frente. Primeira parada foi em Parintins, onde parte dos passageiros desceram e outros subiram, mas foi embarcado nesta cidade muita mercadoria da região. Outra parada foi em Oriximiná e outra ainda em Óbidos, que dizem ser a parte mais profunda do Rio Amazonas, onde ele tem somente 1,5 km de largura e a profundidade de 200 metros. Uma parada em Santarém e lá pudemos descer um pouco em terra e pude ver a quantidade de madeira de lei (mogno) que estavam empilhadas para serem levadas para a Europa e Estados Unidos. Imaginem um monte de uns 300 metros de comprimento por uns 30 metros de altura. A devastação da floresta já tem tempo que acontece e a vista de todos. O que achei legal em Santarém foi o processo de carga de peixes congelados. Foram toneladas de peixes, pois o navio ficou parado neste local por mais de 05 horas somente para fazer esta carga.
Hoje encontra-se açaí em qualquer lugar, mas pouca gente sabe que esta frutinha é originaria do norte do Brasil e sua colheita é artesanal. Por diversas vezes, o navio parou no meio do nada para que um morador se aproximasse do barco com uma canoa lotada de açaí. Quando chegamos em Belém, havia no barco mais de 100 cestos tipo um barril cheio de açaí.
Nesta viagem você também se depara com a pobreza de uma forma tão agressiva, que choca só de ver ou pensar. Imaginem morar às margens do Rio Amazonas, sem nenhum recurso, sem luz elétrica, sem nada e depender apenas da extração de açaí, palmito ou da pesca? Um fato marcante foi quando o navio passava pelo Estreito de Breves, crianças de 04 a 10 anos em pequenas canoas, feitas de troncos de arvores, vindo de encontro do navio pedindo comida, o que parece ser um costume local e os passageiros jogavam sacos plásticos com roupas, comidas e aquelas crianças, enfrentavam as ondas causadas pela passagem do navio com coragem e levavam suas canoinhas de encontro das prendas, antes que elas afundassem. Viagem inesquecível."
                                                        Imagens do site selvagem.net
 Relato de um amigo aventureiro, Luis Antonio.